segunda-feira, 26 de novembro de 2007

as partículas da noite...

É noite. Num súbito movimento instintivo arrasto levemente a janela. Lá fora chove, está frio e inspira-se um ar pesado, carregado, com infernais aromas invernais. Ouve-se a água a cair suavemente sobre as folhas secas das árvores que se encontram espalhadas pelo chão. Sinto o vento a entrar, como se rachasse o meu pensamento. Ao fundo, a Serra está encoberta de nuvens, apenas se observa uma faixa de luz rosada sobre o palácio, encantando-o ainda mais, fazendo-o parecer um palácio de contos de fadas perdido numa sombria e rigorosa noite de Inverno.
Está frio e as pontas dos dedos começam a deixar de se sentir. Um pouco mais próximo, vê-se um amontoado de luzes, restilho de uma civilização encarcerada, presa, trancada pelo medo. O medo do frio, o medo da noite, o medo da escuridão da noite que preserva o mistério e desperta a curiosidade, que emana solidão e mune tristeza.
A chuva fica mais intensa. Uma luz acende-se. Passa um carro e ouvem-se as rodas molhadas a cortarem violentamente a água que escorre em torrentes pela estrada, como setas que cortam inevitavelmente e cruelmente um coração perdido, que espairece pela noite escura, sombria que o enaltece.
A chuva continua a cair e as nuvens aproximam-se. Da Serra já nem as luzes se avistam. As nuvens engoliam tudo e a civilização, adormecida na noite, já se encontra detida nas nuvens que a envolvem como os tentáculos de um polvo.
Nos fios de electricidade brilhantes, que reflectem a luz obscura dos candeeiros, onde na Primavera cantam os passarinhos, correm agora gotas de água densas, como sangue que coagula nas veias dilaceradas vítimas de uma noite maliciosa. Ao fundo observa-se agora uma vasta área de azul no céu, como se do amanhecer se tratasse, um amanhecer da noite sombria e desumana. As nuvens movem-se no céu, com mais velocidade, e ganham formas, formas aterradoras de gárgulas impiedosas, de monstros implacáveis que tentam penetrar nas casas por qualquer pequena fresta. Finalmente chegaram e tudo se aclarou. O que se vê agora é a textura vaporosa, insolúvel, flutuante das mais pequenas partículas da noite.

3 comentários:

Anônimo disse...

ms anda td com a cena da chuva pq??
aiiii.. ms nem tem chuvido meus amores. minha galdéria n me desistas da maths sff! é madrasta como a noite mas nos podemos dar a volta com ajuda uns dos outros. e eu conheço um joão cheio de motivação, força de vontade e alegria!
abraço

Anônimo disse...

A mente comanda o corpo!

Subcrevo o que foi dito pelo afonsinho!! Força moço!

abraçolas

Anônimo disse...

Quem é esse Joao Vilas (com 2 LL, atençao!!) e Reis??
Escreve muito bem, adorei o texto, tocou me bastante.
Força nisso Villas, tens futuro na escrita, dps keru ver o seu Livro publikado.